Algo que parecia outra tendência há 20 anos e que muitos CIOs se recusavam a considerar acabou sendo um dos movimentos tecnológicos mais lucrativos e disruptivos do mundo: a nuvem tornou- se uma realidade inegável.
Só na Europa, 41% das empresas já incorporaram serviços em nuvem, mais que o dobro de cinco anos atrás. A Finlândia lidera o ranking com 75% das empresas que contrataram serviços de computação em nuvem, seguida pela Suécia, com 70%. A cada ano, mais empresas consideram migrar seus dados para a nuvem. Tanto que se espera que, até 2024, o número de empresas que utilizam serviços em nuvem chegue a 90%.
Mas antes de iniciar uma migração para a nuvem ou criar aplicativos em qualquer lugar, é necessário ter um documento de estratégia de nuvem, que inclua objetivos, princípios, projetos de arquitetura, riscos e impacto organizacional. E será fundamental que tal documento seja divulgado e acordado pelas áreas afetadas de uma organização, tanto em tecnologias de informação e comunicação (TI) quanto digital e empresarial.
Um desses pilares fundamentais da estratégia de nuvem é a definição de um modelo operacional, um esquema que determina como as diferentes áreas se relacionam para garantir que a adoção da nuvem não seja apenas uma realidade associada a aspectos técnicos, mas uma mudança cultural que exige processos eficientes.
O que é um modelo operacional de nuvem?
Um esquema estruturado composto por processos, capacidades e modelos de relacionamento, necessários para poder moldar a estrutura organizacional que dará o suporte necessário para a adoção de serviços em nuvem em uma empresa.
Nem todas as organizações exigem o mesmo formato ou estrutura do modelo operacional de nuvem. O que é recomendado para uma empresa onde prevalecem decisões urgentes e não há nível executivo, não tem de ser aplicável a outra empresa em que existam ordens hierárquicas e estruturais muito definidas que baseiam seu funcionamento em planos estratégicos e operacionais específicos.
No entanto, todos os nossos clientes concordam que a definição do modelo operacional de nuvem inicialmente definido deve evoluir, da mesma forma que a própria empresa amadurece ao longo da jornada da nuvem.
E como qualquer outro modelo operacional, o negócio tem um papel mais do que relevante, pois serão os clientes diretos que consumirão os serviços em nuvem oferecidos pela TI.
Três considerações para criar um modelo operacional de nuvem
É um erro iniciar diretamente uma migração para a nuvem sem ter considerado aspectos operacionais de como os serviços são operados, quem é responsável por tal função e como ou quem determina a evolução técnica dos serviços de nuvem que suportam as aplicações de negócios.
É aí que entra o modelo operacional de nuvem. Distinguimos três aspectos fundamentais a ter em conta na sua definição:
1. Definição explícita das funções de nuvem operacionais
O modelo operacional é baseado em processos e relacionamentos entre funções-chave, que devem ter determinadas capacidades. Antes de abrir o debate sobre a estrutura organizacional, é mais do que necessário moldar as 2 funções essenciais que darão suporte a todo o modelo operacional da nuvem de forma ordenada:
a. O papel do governo:
Pode ser entendido como a função de uma área de arquitetura, que desenha a estratégia de nuvem, padroniza as arquiteturas de referência, gerencia os fornecedores de nuvem e transforma a organização para que a adoção da nuvem seja um sucesso. Tal transformação deve ocorrer em todos os níveis, inclusive no empresarial, diante do qual terá o desafio de oferecer maior valor agregado no referido governo, o que lhe for mais atrativo, do que se optasse pela adoção independente e em sombra. A identificação de papéis, habilidades necessárias, treinamento e estratégias de adoção cultural serão tópicos adicionais a serem abordados por esta função.
b. O papel da engenharia:
Será responsável pelas tarefas mais técnicas relacionadas com a implementação, gestão e operação dos serviços, garantindo o cumprimento dos níveis de segurança e normativos e o cumprimento interno.
As funções acima estarão relacionadas com outras áreas que já existem na maioria das organizações. Por exemplo, a área de gestão financeira de TI para controle de custos de nuvem e a área de PMO (Program Management Office), que intervirá em muitas das iniciativas de nuvem, como migrações ou outros. Esses e outros adicionais devem fazer parte do modelo operacional, para garantir o sucesso na adoção da nuvem.
2. Modele uma estrutura organizacional apropriada
Cada uma das funções descritas acima, com base em processos, capacidades e funções, deve ser suportada por uma estrutura organizacional que as suporte. O formato dessa estrutura vai depender muito do contexto da organização, de sua rigidez ou flexibilidade na hora de incluir novas equipes e definir novos modelos de relacionamento.
No caso da função Cloud Government, existem diversas formas de a materializar, seja através de um Cloud Center of Excellence (CCoE) ou Cloud Competence Center. Independentemente do nome atribuído, é inegável a relevância dessa função e, com ela, da equipe que a representa, em termos de evangelismo tanto para as áreas de TI quanto para o negócio. Eles representam o maior expoente na adoção de serviços em nuvem, responsabilizando-se pela definição da estratégia associada, pela padronização do uso e pela assessoria tanto para TI quanto para o negócio.
materializar a função de engenharia, operações e administração em termos organizacionais resulta em um grau de liberdade ainda maior. Mas não recomendamos que nenhum deles seja inserido na área tradicional de operações, já que as metodologias e esquemas de trabalho não costumam estar alinhados com estratégias de produto, mentalidades de automação máxima ou práticas ágeis e DevOps, que são as que predominam no contexto da nuvem.
Dentro do grau de liberdade mencionado, existem organizações que decidem terceirizar a operação de nuvem para um provedor de serviços gerenciados e podem adotar diferentes estratégias, sejam elas mais próximas de um puro suporte e administração de serviços IaaS ou mesmo optando por abordagens orientadas à prática de DevOps e perto de desenvolvimento.
Da mesma forma, outras organizações decidem interiorizar essas funções e estabelecer esquemas mais próximos do desenvolvimento (seja através de metodologias SRE ou estruturas próximas do lema “You build it, you run it”) ou equipes que se constituem como verdadeiros grupos de produtos ou plataformas, oferecendo produtos de nuvem e DevOps mesmo no modo de autoatendimento.
3. Integrar outras áreas organizacionais no modelo operacional
Para que o modelo operacional de nuvem funcione pelo impacto que tem, deve haver uma estreita colaboração entre algumas áreas organizacionais e aquelas que estão diretamente envolvidas no ciclo de vida dos serviços em nuvem. Algumas dessas equipes serão os departamentos financeiros, compras, gestão de programas/projetos e a área de cultura e treinamento principalmente, que irão participar plenamente em determinados projetos bem como a médio-longo prazo, na identificação de competências, carreiras profissionais e gerenciamento de capacidade de função.
A adoção da nuvem, bem como das diferentes entidades organizacionais que suportam o referido processo, evoluirá ao longo do tempo, de acordo com as diferentes necessidades que surgem das solicitações do negócio e do contexto político, econômico e tecnológico que envolve a organização.
Nem tudo pode ser definido em primeira instância, porque o choque no nível organizacional e cultural é muito grande para ser digerido por empresas tradicionais que estão entrando no ambiente de nuvem (ou mesmo multinuvem). No entanto, entrar no mundo dos serviços em nuvem sem uma estratégia e com base em um modelo operacional bem pensado e acordado para apoiá-lo pode ser arriscado.